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Não é só sexo: Praticantes explicam o que é o BDSM

  • Foto do escritor: Leonardo Oberherr
    Leonardo Oberherr
  • 22 de set. de 2021
  • 5 min de leitura

Saiba mais sobre a prática consensual que envolve prazeres físicos e mentais

Matéria publicada na Beta Redação. Disponível clicando aqui.

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O Bondage é uma das vertentes do BDSM. (Foto: Pars Sahin/Unsplash)

A sigla BDSM significa bondage — que pode ser traduzido como “servidão” — e disciplina (B e D), dominação e submissão (D e S), e sadismo e masoquismo (S e M). Ainda não entendeu? Então pega caderno, caneta, seu ou sua cônjuge, e aprenda um pouco mais sobre esse universo que tem ganho cada vez mais espaço nos relacionamentos.


“De um modo geral, o BDSM não fala apenas de prazer”, assim pontua a Mistress Mahara, uma das mais requisitadas dominadoras do Brasil.


O significado da sigla:

  • Bondage (B): São as brincadeiras que envolvem restrição física. Talvez você até já tenha feito essa prática, só não sabia. São mordaças, cordas e a famosa algema.

  • Disciplina (D): Refere-se às regras estabelecidas entre os participantes

  • Dominação (D) e Submissão (S): São os papéis de duas pessoas dentro do BDSM. Um domina e outro é dominado. Claro, é uma decisão consensual.

  • Sadismo (S) e Masoquismo (M): O sádico, no BDSM, sente prazer em ver as reações físicas. Pode ser um corpo suando, marcas ou a vermelhidão da pele. O masoquista é quem sente prazer em sofrer com estes estímulos dolorosos.


“Uma relação BDSM é basicamente formada por jogos de poder que envolvem dominação e submissão, ou sadismo e masoquismo que não precisa de nenhuma hierarquia, apenas uma troca homogênea. Existe a relação 24/7, onde a hierarquia é seguida em tempo integral, e a relação para plays pontuais, que são somente em momentos combinados”, explica Mistress Mahara.


A modelo e influenciadora de 26 anos é reconhecida pela sua expertise sobre o assunto: são mais de 26 mil seguidores no Instagram. Além disso, Mahara já foi personagem de reportagens sobre o assunto na RedeTV, e recentemente foi entrevistada por Pedro Bial, no Conversa com Bial, da Rede Globo. Em seu perfil no Instagram, traz assuntos variados, como relacionamentos, autoestima, fetiches e moda fetichista. Mahara recentemente abriu vagas para seu workshop, onde ensina dominadoras experientes, ou não, a aprimorarem suas relações.


A dominadora aparecerá em breve também nas telas de televisão e, quem sabe, cinema: Mahara foi convidada para participar do documentário Fetiche de Heitor Dhalia (o mesmo diretor da série Arcanjo Renegado, da Globoplay). Ainda não há previsão de lançamento.

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Mistress Mahara utiliza suas redes sociais para informar e ensinar práticas do BDSM. (Foto: Renato Lavdovsky / Instagram ms.mahara)

O prazer nem sempre é sexual

Mahara adotou a prática e vivencia o BDSM em suas relações pessoais, externando e ensinando sobre a atividade através das redes sociais. “Apesar de particularmente realizar práticas de BDSM, acho importante pontuar que existem as ‘Pro Dommes’”. As Pro Dommes são mulheres que monetizam a experiência que oferecem ao outro. Elas respeitam limites acordados, mas são elas quem decidem o quê, como e quando fazer alguma prática com o submisso que está pagando pela experiência.


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Relato de uma seguidora no Instagram de Mahara. (Foto: Reprodução / Instagram ms.mahara)

Há, então, quem utilize das práticas do BDSM para apimentar uma relação. Mas, essencialmente, o BDSM provoca prazer físico e mental, nem sempre é sexual. “De um modo geral, o BDSM não fala apenas de prazer. Mas fala de auto descoberta, empatia, conexão, auto estima, troca de confiança, posicionamento, e outros assuntos importantes também”, comenta Mahara.


Para a psicóloga Leticia Latosinski, a prática é comum: “A verdade é que em quase toda relação tem um sádico e um masoquista”, comenta, quando questionada sobre as características dos praticantes do BDSM e se existia algum padrão psicológico entre eles. Mahara também explica que o BDSM "traz estímulos físicos e mentais que, na maioria das vezes, não tem relação com sexo e nem práticas que envolvem dor".


“Para mim, é libertador. É libertador fazer o que tenho vontade, mesmo parecendo surreal do ponto de vista do ‘normal’. A normalidade é um conceito relativo”, comenta Schiavo Renato, submisso praticante do BDSM há mais de 20 anos. “Tenho lembranças de quando era criança, de me sentir bem com algumas brincadeiras em que era mandado por mulheres, sofria punições aplicadas pelas meninas. Nada sexual. Muito pelo contrário, é sentir-se bem servindo à mulher e sendo castigado por elas”.


A alcunha de Schiavo Renato também não é de nascença, característica dos praticantes, que costumam carregar sua função no nome: Mistress, que em inglês significa amante, entre os praticantes, referencia-se como no sentido de senhora. Schiavo, em italiano, escravo, é o termo para submisso. Já findom, é abreviação de financial domination, que significa dominação financeira (uma variante da prática dominação/submissão, na qual o money slave sente prazer em presentear e pagar as contas de sua dominadora financeira, seguindo as ordens dela).


A dominadora profissional Tiff Findom, comenta que tem praticado o BDSM de forma online durante a pandemia, por ser mais seguro. “As seções online ajudam a estimular a imaginação do escravo. Como não estou fisicamente presente, eles precisam usar muito da imaginação”, completa.


Quando um submisso não cumpre a ordem da dominadora, ele sofre castigos, conforme explica Tiff: “Algumas punições são psicológicas ou com dinheiro, mas já pedi para ajoelharem no milho, e em alguns casos extremos, fiz tomarem minha urina”. Todas as penas previstas são acordadas através do contrato entre os praticantes, então, quando se submetem à dominação, o submisso já está ciente das condições.

Conversar é a chave de tudo

Como em qualquer relação, a chave é a conversa. “Estamos juntos há 12 anos. Chega num ponto que é monótono. Nós dois sabemos o que o outro gosta, mas não tinha a mesma emoção de antes. O BDSM no nosso relacionamento deu uma vida a mais. Ficamos mais alegres, divertidos, curtimos mais a companhia um do outro”, comenta uma praticante de 30 anos que pediu para não ser identificada. Submisso há dois anos, outra fonte, que preferiu preservar a identidade, fala que sua experiência com o BDSM tem sido boa: “É um fetiche. Assim como muitos tem desejos de muitas coisas, seja na vida ou na hora de sentir prazer, a relação entre dominação e submissão é o meu, e tem sido ótimo”, relata.

“Práticas que envolvem desafios, troca de confiança e muita conversa entre os praticantes, são ideais para não deixar a relação cair na monotonia. E isso funciona super bem!” — aponta Mahara.

Mistress conta como é seu relacionamento pessoal: “Tenho um parceiro que exerce uma relação fetichista comigo. Ele se submete em momentos pontuais e, no mais, temos uma relação onde dividimos opiniões e decisões, como qualquer outra relação baunilha (não praticante do BDSM)”. “Minha relação pessoal não é baseada no BDSM, mas não podem faltar momentos em que me sinta à vontade para exercer o que gosto”, complementa.

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A posição de dominação é definida previamente entre os participantes. (Foto: Renato Lavdovsky / Instagram ms.mahara)

É tudo consensual

A base do BDSM está no consenso. São firmados contratos, nos quais as ações são definidas previamente entre as partes. Quem vai ser dominador ou submisso, quem vai infligir ou sentir dor, etc.. Mahara exemplifica, no caso da relação entre submisso e dominante, que o primeiro abre mão de decidir as coisas. Quer dizer, ele passa a responsabilidade do prazer dele para quem está dominando. Além disso, Mistress explica, ainda, que o BDSM é uma forma de expandir a sensação de prazer para além da sexualidade usual, como no sexo e na masturbação. Há quem chegue ao orgasmo, inclusive, através das seções de masoquismo.


O BDSM é, também, para muitos, um escape da realidade natural. Mahara, inclusive, fala de pessoas que têm poder durante o dia, mas que, na hora de sentir prazer, um dos estímulos é justamente essa pessoa não precisar estar focada e decidir o que fazer. Ela deixa a cargo do dominante da relação. E, mesmo que não seja uma sessão sádico-masoquista, as palavras de segurança se fazem presentes.



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