A diferença entre corrida e passe
- Rodrigo Palaver
- 17 de jan. de 2018
- 3 min de leitura
Quando pensamos em Futebol Americano, a primeira coisa que deve vir à cabeça é que "são um bando de brutamontes se batendo”. Tudo bem que é um esporte de contato, mas é muito mais que isso. É um jogo de trincheiras: de um lado, o ataque precisa avançar 10 jardas a cada 4 tentativas; do outro, a defesa precisa impedir os avanços, forçando o ataque a devolver a posse.
Em segundo plano, para avançar, o ataque tem basicamente duas opções: correr ou passar. Quem assiste algum jogo pela televisão pensa que é bem fácil lançar para um recebedor livre ou bem fácil correr por entre os trogloditas da defesa. Muito já ouvi as frases “era só passar!” ou “a corrida entrava fácil”. Mas, agora pergunto, você sabe a diferença entre corrida e passe? Você sabe por que um time, naquele determinado momento, escolhe passar ou correr? É difícil prever a mente dos Coordenadores Ofensivos e Head Coaches, mas vou explicar brevemente a diferença.
Dez jardas e 4 tentativas. Passo ou corro? Geralmente, há um balanceamento, a não ser que a postura do time seja para o jogo corrido somente. A corrida no futebol americano pode ter múltiplas variações e diversos sistemas. Os mais conhecidos são o sistema de gaps e o sistema de zona. Um parênteses: nos Estados Unidos, geralmente quem chama de gap é a defesa, e o ataque chama de hole (pouca diferença, porque gap significa "vão" ou "espaço" e hole significa "buraco" propriamente)*. Gaps, então, são espaços que são contabilizados entre um e outro jogador da Linha Ofensiva (OL), como na imagem abaixo:

Na imagem, temos o sistema de gaps, sendo a contagem de números pares à direita e ímpares à esquerda. A contagem varia muito da opção de cada coach. Nesse sistema, geralmente a chamada de uma jogada de corrida é precedida por um número de gap. No exemplo de chamada “I Blast 31”, I significa que é I Formation (tipo de formação e alinhamento), Blast é o tipo de corrida, e 31 indica a corrida com o Running Back no gap 1.
Já o sistema de zona se baseia em definição de bloqueios, sendo que cada jogador da Linha Ofensiva tem uma responsabilidade de bloqueio de acordo com o alinhamento dos defensores, cabendo assim ao corredor identificar os espaços criados pelos grandões da OL.

Exemplo de corrida no sistema de zona
Além dos sistemas de corrida, temos os conceitos. De longe, as corridas parecem todas iguais, mas taticamente falando, um detalhezinho muda completamente a jogada. Por exemplo, posso fazer uma jogada igual à de cima na primeira vez e, na segunda oportunidade, rodar ela com um pull do guard do backside – isso quer dizer que o grandão marcado como G da esquerda vai sair em direção ao lugar da corrida do RB assim que a bola estiver em jogo.
Ou seja, mesmo sistema, jogada semelhante, conceito diferente. E é esse detalhe que faz toda diferença. Não abordarei ainda todos os conceitos de corrida, mas cito alguns: inside zone, outside zone, sweep, power, pin-pull, duo, wham, option, read option, etc.
Por sua vez, o passe também possui diversos sistemas e conceitos. O sistema mais conhecido e mais utilizado é o de árvore de rotas. Outro exemplo é o de “drop steps”, que é uma contagem de passos que o Quarterback (QB) dá após o snap (quando o Center lhe entrega a bola). Dentro do sistema de drop steps, temos rotas estabelecidas para 3, 5 e 7 passos, que significa quantos passos o QB dará até lançar. Já a árvore de rotas contém uma infinita gama de variações, sendo que cada coach pode criar a sua. Abaixo veremos exemplificações dos dois sistemas.

A árvore de rotas mais comum é esta acima, composta das rotas: flat, slant, quick-out, curl, comeback, out, in, corner, post, go.
O sistema de drop step pode utilizar as mesmas rotas de uma árvore de rotas. Como no exemplo acima, uma rota slant foi lançada em 3-step (três passos). Há infindáveis rotas e combinações e, afora isto, ainda há os sistemas de jogo, os quais influenciam diretamente nas escolhas que citei aqui. Os conceitos de jogo e passe são para um papo mais além.
Espero que tenha ficado claro que correr não é só correr e passar não é só passar (lançar a bola). Há muito mais por trás de uma jogada. Meu objetivo é instigá-lo, leitor, a buscar mais conhecimento (como diria o ET Bilú). Até a próxima!
* Obrigado ao Coach Wendell pela informação!
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