Ser medíocre não te faz Campeão.
- Leonardo Oberherr
- 30 de mar. de 2018
- 6 min de leitura

Estou copiando a Coluna Palavreando? Não, mas vou dar a minha visão sobre o assunto que já foi falado por lá. escreverei sobre a mediocridade dos atletas. Atletas não, jogadores, e olhe lá. Aqui está o Ober que queria ser Romário, queria ser Brady, mas não queria ser treinado. Hoje falarei como "ex-atleta".
Comecei a jogar futebol americano em março de 2015, no São Leopoldo Mustangs. Após realizar a seletiva me disseram que seria um ótimo Tackle. Detestava ser OL. Desculpem. Não levem isso como uma ofensa, eu nunca fui atleta. Mas era chato pra caramba "apenas" bloquear e abrir gap. Não recebia passe, não corria, nem sequer tackleava.

Tudo começou na seletiva. Eu não percebi, mas no próprio TryOut já poderia ter notado que não deveria estar ali. A seletiva fora realizada em quatro etapas, em quatro sábados. O segundo dia eu faltei porque fui assistir um GreNal. Atleta não pode-se dar este luxo.
Eu tinha 17 anos e queria ser Romário. Romário, Ronaldinho, Adriano Imperador... Queria figurar entre os melhores, fazer festa e destruir nos jogos, mas, odiava treinar. Meia hora de aquecimento, meia hora de Ilha do Apito (saudações ao meu Coach Ismael Ferreira por ter me traumatizado), mais duas horas e meia de drills e, com sorte, meia hora de coletivo. O coletivo que era o melhor, o mais divertido, e tinha pouco tempo. Eu e minha cabeça de "atleta" preguiçoso, não entendia a importância de um drill.

Mas "o baile seguiu". Todo sábado eu estava lá, para treinar. "Dane-se a academia" - pensava. "Playbook? Dieta? Saber alguma coisa de FA? Não preciso disso, eu vou destruir geral em campo". EU ERA TOLO! E como era... Eu era péssimo. Tinha potencial, é verdade, um garoto de 17 anos, 1m92 e 115kg tinha tudo para, se bem treinado, despontar. Mas eu não estava nem aí! Tenho mais fotos equipados do que treinos. Eu era o grande exemplo de fracasso enquanto player. Nunca entrei em campo em partida oficial, apenas em Training Camps, contra Bulls (Vide foto ao lado, nem a jersey eu era capaz de vestir do lado certo), Restinga Redskulls e Porto Alegre Pumpkins.
Queria ser Brady. Eu queria ser o melhor em campo. Queria ser dominante. Não era, e jamais seria! Não sem treinar. Não sem o esforço diário. Me orgulho, hoje, em dizer que eu era um grande exemplo. Negativo, mas era exemplo. Até que depois de seis meses enganando, tive uma atitude que muitos deveriam ter:
LARGUEI O FUTEBOL AMERICANO ON FIELD.
Parei de jogar. Ir até São Leopoldo treinar, perder meu sábado, sujar a roupa, voltar exausto... nada daquilo era prazeroso. Não queria aquilo. Na verdade nunca quis. Eu queria fardar, entrar em campo e comemorar Touchdowns, vitórias e títulos. Mas a mediocridade não te faz Campeão.
Cá entre nós, eu fui razoavelmente inteligente. Tive ombridade e fui corajoso em dizer não para o esporte que amo. Me arrependo? Um pouco. Mas a vida é feita de escolhas, e eu escolhi aproveitar e curtir o futebol americano da sideline. Fiz bem. Sinto saudades de arremessar uma bola? Sim, mas como OL eu também não fazia, então... fiz a escolha certa. Demorei, mas parei. Parei de "jogar", parei de me enganar, enganar aqueles que eu dizia "sou jogador de futebol americano", enganar meus companheiros, e, principalmente, parei de enganar meu time.

Vendo de fora, muitos "atletas" são hoje como eu era há três anos. Adoram fotos. Nada contra o Marketing, desde que você se esforce. Um jogador que marcou Touchdown, fez um ótimo tackle, bloqueou formidavelmente em uma big rush, merece fotos. O terceiro backup de holder, me desculpem, mas não. O player que erra tackle, dropa 100% dos passes em sua direção, não. Muitos jogadores de hoje não gostam de academia, não gostam de estudar, não gostam de se dedicar. E isso é um direito do player. Mas é tão direito do player ser preguiçoso, quanto é dever do time mandar esse cara embora. Times competitivos não aceitam peso morto.
Complicado é quando o esporte se junta à juventude. Bem, eu tinha 17 anos e falo por mim. Faltei em treinos porque fiquei uma horinha a mais na festa. Faltei treinos porque tomei uma(s) cervejinha(s) a mais. Mas e daí? Eu queria ser Romário. Romário fazia dessas. Festava a noite toda e resolvia no outro dia. Estou esperando resolver um jogo no dia seguinte.
As seletivas de hoje recrutam a partir dos 16 anos, em média. Coloquem na cabeça de um garoto dessa idade que ele deve largar o videogame pelo estudo de playbook. Incentivem-nos para pararem de assistir Felipe Neto e Banheira de Nutella, para assistir algum treinamento no Youtube. Ou o melhor de todos: Forcem-nos de abdicar sua vida social, a cervejinha e o churrasquinho com os amigos, porque na manhã seguinte tem treino. É difícil. Não digo que não aconteça, mas é difícil. Mais difícil ainda quando se chega na maioridade, faz a Carteira de Motorista e compra seu carro. Jovem - em sua maioria - quer curtir a juventude. A liberdade está nas mãos deste player e ele quer fazer tudo, e, no final das contas, não faz nada.

Agora é minha vez de dar um conselho. Tenho atualmente 20 anos e sou o jornalista responsável por um dos Portais de Futebol Americano que mais cresce no estado e no país. Não somos os melhores - ainda - mas não somos os piores. Em muitos casos, somos pioneiros. Não sou tiozão, mas aproveitem o conselho, é de graça: Analisem suas carreiras!
Já está de "saco cheio" de gastar dinheiro e tempo com o Futebol Americano? Pensa que as lesões ou que o esporte não te levarão a lugar nenhum? Poupe-se e ajude seu time: Saia! Pare de jogar. É uma decisão difícil, sabemos, mas faça o balanço.
Vale a pena continuar fingindo que joga?
O resumo de tudo isso? Bem, eu falei bastante e contei algo que aconteceu comigo e com certeza acontece com diversos jogadores. Não quero que se desliguem do esporte, mas repensem. Não há mais tempo para treinamento, para estudo e para se dedicar ao campo? Dê espaço para outro. Dê chance para quem está nesse esporte e quer crescer com ele. E o mais importante: O futebol americano não é apenas On Field. Não é apenas jogar.
Quando eu parei de jogar, segui no Marketing e na comunicação social do Mustangs por um tempo, e isso me ajudou muito no início da faculdade de jornalismo. É uma experiência incrível. Depois de alguns meses, voltei como coordenador de Seletiva (organizava os tryouts) e até configurei quadro de Conselho Deliberativo da equipe. Tudo isso sem pisar em campo, apenas com trabalho de staff.

E é nesse momento que tu conhece o futebol americano de verdade. Como jogador, a preocupação eram os futuros Matchups, com o jogador adversário que bateria cabeça comigo, e olhe lá. Eram, ou, ao menos, deveriam ser, apenas treinamentos em cima de treinamentos. Quando me desliguei do campo, conheci mais dos times, das estruturas, das pessoas e de todo o esporte. E isso é mágico!
Pense, e se decidir parar, pare. Seja homem e honesto com você, seus amigos, familiares, time e companheiros de time. A honestidade ainda é algo extremamente respeitável em qualquer espaço.
O futebol americano é mais, muito mais do que o campo. Fale com sua comissão técnica, ajude nos treinamentos, seja auxiliar, coordenador de drills nos treinos, siga no esporte! Procure interagir com a direção. É aluno de jornalismo ou comunicação social? Ajude seu time nessa área! Trabalha com marketing, design? Que tal auxiliar a sua equipe? Dentro do time, várias são as funções necessárias! Ajude no que puder, se não quer se desfazer do time. Ainda tem diversas opções fora dele também. Gosta de fotografar? Que tal ter como hobby tirar fotos de jogos? Quanto mais, melhor! E filmar? Já pensou em escrever sobre futebol americano para algum site? Sempre são precisos voluntários! Quer pensar mais além, no futuro do esporte? Monte uma apresentação e leve conhecimento de futebol americano para as escolas, organize projetos sociais com a bola oval, instigue a meninada a jogar football. Você pode fazer parte do futebol americano sem estar em campo. Precisamos - e muito! - disso também!
Mas se nenhuma função extracampo te agrada, vá para a arquibancada! Ajude a formar uma torcida organizada da sua equipe, ou até mesmo, pague o ingresso e acompanhe o esporte. Mas não atrapalhe o crescimento de quem luta, batalha todo dia para ser melhor do que você. Você é que quer ser Romário, Brady, Adriano Imperador ao mesmo tempo, sem ser primeiro um jogador disciplinado com os treinamentos.
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