Calm Down! Os americanos vieram mesmo para desequilibrar no Gauchão?
- Leonardo Oberherr
- 24 de abr. de 2018
- 5 min de leitura

É cedo para afirmar. Muito cedo. Seria injusto se eu escrevesse de forma definitiva, mas podemos tirar algumas análises das estreias de Julian Crandall, Corey Watson, do Ijuí Drones e Randy Powell, do Santa Cruz Chacais. Começando pelo óbvio: sozinhos, não vão ganhar nada.

Mas se eles não são atletas profissionais - pois o salário vem de um outro emprego - podemos cobrá-los como tal? É uma pergunta difícil de ser respondida. Se comparados aos brasileiros, sim, devem. Os brasileiros não nascem com o gene "football", diferentemente da maioria dos americanos. Brasileiros precisam trabalhar para sustentarem-se, e precisam treinar muito para chegar ao nível de um americano que viaja o mundo como football player. Se tu te dispõe a ser um jogador de futebol americano, independentemente de nacionalidade, tu te coloca à mercê da necessidade dos times emergentes, que querem absorver o máximo de conteúdo de um americano.
Vamos "futebolizar"? Durante anos, a Geral do Grêmio (Torcida organizada do Grêmio) creditava méritos apenas aos castelhanos. Jogadores que não "hablavam" não tinham a simpatia dos torcedores. E qual o motivo? Espera-se que um jogador internacional seja melhor que os nacionais. Nosso sub-consciente trabalha com a ideia de que um jogador que atua fora de seu país é bom demais para ficar em seu próprio país e, quando chegam ao país novo (por mais que a competitividade seja diferente) espera-se qualidade do estrangeiro. Afinal, ele foi selecionado "a dedo" de um time exterior. Uma Primeira Divisão de uma Competição Nacional, tem, pelo menos 200 jogadores titulares em suma. Se tu contrata um, é porque ele deve ser o melhor - ou um dos melhores - do país. Logo, ele chega aqui e deve ser melhor que os jogadores "comuns" produzidos nacionalmente (ainda estamos falando de soccer).

Voltando ao football, essa máxima não é muito verdadeira. Americanos que são exportados de seu país de origem, invariavelmente, por melhores que sejam, são jogadores que não chegaram na Elite: a NFL. Isso os fazem ruins? Não. Eles podem desequilibrar, e isso que se espera. Mas nem sempre acontece.
Busquemos na história do próprio futebol americano gaúcho: Tim Lukas e Ricardo Miller, do Juventude FA. Tim Lukas passeou no Gauchão, já Miller jogou bem, mas não era a "estrela" daquele título conquistado pelo Juventude, em 2015. No Torneio Touchdown, os dois pouco puderam fazer diante de outros americanos de equipes como Timbó Rex de Drew Hill, Jaraguá Breakers de Phil Browder II, ou o Paraná HP de Elijah Freeman.
Mais recentemente, Jobari Coleman e Ray Bradley pelo Porto Alegre Pumpkins e Lorenzo Gray pelo Bulls. E aqui percebemos disparidade. A dupla dos Pumpkins levou a equipe - desacreditada no cenário gaúcho - até a semifinal do Gauchão 2017. Já Lorenzo pouco fez em sua passagem pelo Bulls.
"Apostar" em americanos não é sinônimo de sucesso, mas ajuda. Mas só americanos? Vou revelar aqui um bate - papo que estive ano passado, entre Eduardo Ferreira (Presidente do Juventude F.A.), eu, Geraldo Takanage (Overtime do FA) e Carlos Constantinov (Cacá) do Salão Oval: Estávamos falando sobre reforços e a disputa da BFA que estava por vir, e o Cacá comentou algo que dificilmente me esquecerei: "Qual o motivo de sermos tão apegados aos americanos? Os mexicanos vem aqui, jogam tão bem quanto ou até melhor, são mais baratos e não chegam com o estigma de ídolos".
Isso me faz refletir até hoje. E Cacá tem razão. Em tese, o jogador de futebol americano nascido nos Estados Unidos é um personagem. É aquele cara do Blue Mountain State, e de qualquer filme de colegial americano: Um fanfarrão. Poucas pessoas conseguem ter contato diário ou semanal com um americano. Eu moro em Sapiranga, nunca vi um andando nas ruas da minha cidade. Quem mora em grandes metrópoles, talvez até tenha mais contato, mas, quase sempre, o nosso maior contato com um americano é pelo filme com visão hollywoodiana.
Os mexicanos jogam football há tanto tempo quanto nos Estados Unidos, tem uma seleção nacional desde 1978, afiliada à IFAF desde 1998, com uma Liga Profissional (a LFA - Liga de Fútbol Americano Profesional) e não são estereotipados.

Alguns americanos confirmam a expectativa e outros não. Vale o risco? Vale. Marvin Desire e AJ Brown livraram o Juventude de "Cair de Divisão" no ano passado, ao vencer, no sufoco o Brown Spiders. Clinton Greenaway chegou ao Estado para atuar no melhor time gaúcho, o Soldiers, destruiu, logo foi contratado pelo SADA Cruzeiro e foi Campeão Brasileiro por lá.
Voltemos aos americanos atualmente jogando no estado, JD Crandall, Corey Watson e Randy Powell. Eles vão destr
uir? Ser campeões? Só o tempo dirá. "Aaah mas a dupla JD e Corey marcaram seis Touchdowns e o Randy nenhum". Bem, é verdade, mas vamos analisar o contexto, e porque eu disse para não sermos definitivos.
Julian marcou cinco Touchdows, é verdade. Dos três, foi o que mais despontou. Não desmerecendo o jogo dele, nem o Spartans, mas ele enfrentou uma equipe que disputou, contra o Drones, sua terceira partida oficial fullpad da história. Além disso, JD marcou dois Touchdowns no final de partida, com o adversário já cansado.
Corey enfrentou o mesmo Spartans, iniciou com um retorno de kickoff de 70 jardas e depois marcou um Touchdown, correndo 30 jardas e percorrendo pelas sidelines dos dois lados.
Os dois jogaram muito, é verdade. Mérito da dupla e de todo o Drones, mas, diferentemente de Randy Powell, ambos chegaram para atuar em suas posições de origem: Running Back e Wide Receiver. Tudo bem, JD jogou também como Defensive Back, mas, na sua função de origem, foi bem. Vale destacar que Johnny atua na mesma posição que Corey, e ficou claro o revezamento entre os dois jogadores durante a partida. E outro fato que diferencia suas ótimas estreias, é que Drones possui um quarterback jovem e starter há temporadas. Uil Gutterres é seguro, portanto, segue em sua função.
Já na estreia de Randy Powell... bem, o "buraco foi mais embaixo". Randy enfrentou uma defesa que jogou muito, como não se vê frequentemente no estado. Os Gorillas seguraram o placar fechado até o quarto período e com agressividade. O ataque não produziu e, se tivesse produzido, poderia ter saído com a vitória. Outro fator importante é que Randy é Defensive Back de origem, e chegou para ser Quarterback. Na função, pouco produziu, muito em função da defesa adversária bem postada. Como DB também apareceu pouco, pois poucas jogadas precisaram de sua intervenção. Randy jogou também como Wide Receiver, dando lugar de quarterback para Diego Goulart no segundo tempo de jogo.

Todos os fatores influenciam. Randy é ruim por não ter marcado pontos em sua estreia? Não. JD e Corey são salvadores da pátria porque a dupla marcou seis touchdowns? Também não.
O fato é que os americanos trazem ânimo novo. Trazem algo diferente. Faz com que os demais atletas imerjam em um cenário "americanizado" de football, por conta da língua estadunidense presente nas conversas, nos treinamentos e nos jogos. Ter um americano do teu lado te dá ânimo. te dá a - falsa - sensação de estar na NFL. O teu imaginário responde dessa forma e é natural.
Conversei com Rafael Kieling e com Ismael Ferreira, Coachs dos americanos e ambos falam a mesma coisa: Os três dão seu máximo como colegas de equipe e são ótimos de grupo. E isso é o que mais importa. Americano deve chegar e ajudar, não atrapalhar.
Torcemos pelos seus desempenhos positivos em suas passagens aqui no Brasil!
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