O que significa dizer que o jornalismo é uma construção social da realidade?
- Leonardo Oberherr
- 27 de jan. de 2021
- 2 min de leitura

Respondendo à pergunta posta: significa dizer que o jornalismo tem sido cada vez menos eficiente. Não no sentido - apenas - de relatar os fatos, mas de como fazê-lo. Traquina fala que o jornalismo é um espelho da realidade. Que um jornalista (isento, sem interesse) estaria ali para interpretar o acontecido de modo neutro, interpretando os fatos, todos, e passando estas informações para o seu público. O que talvez faça o jornalismo perder cada vez mais importância, uma vez que atualmente, todos possuem voz e ferramentas de exposição de suas leituras de caso, mesmo não sendo especializadas.
Bem, a função do jornalista neste caso, como dito, é interpretar e levar os fatos de maneira isenta ao seu leitor. Porém, a partir do momento que ele compete por atenção com quem tem uma câmera ligada gravando e transmitindo o fato, o usuário final passa a “não precisar” de um terceiro para fazer as conclusões.
O esporte talvez seja um exemplo muito eficiente para se dar sobre o caso. Antigamente raros jogos eram transmitidos em canais de televisão aberta. Dependíamos das interpretações dos jornalistas que no estádio estavam para entender o jogo através do rádio, ou na crônica pós-jogo, nos jornais do dia seguinte. Diferentemente de hoje em dia, por exemplo, que com auxílio da internet, é possível assistir aos jogos até de graça.
Muito deste fenômeno da falta de importância do trabalho jornalístico se dá, também, pelo serviço em “piloto automático” do jornalista na sua função (algo semelhante descrito por Gaye Tuchman em 1978). Normalmente a apuração é engessada, ou como disse Tuchman: “Rotinizada”. São sempre os mesmos estilos de fontes jornalísticas para a apuração da matéria. Um exemplo? Num caso de feminicídio (ou tentativa de), quais são as pessoas que os jornalistas costumam ouvir? A vítima, os policiais, médicos e investigadores do caso. Raramente procuram falar com parentes da vítima ou do criminoso, ou até mesmo vizinhos, amigos, que poderiam traçar detalhes diferentes sobre os fatos. Também é fato que neste mundo conectado, a agilidade também se faz completamente necessária, e uma matéria muito bem feita, com diversas fontes, exige mais tempo, e nessa sinuca, quem costuma perder a batalha, é a qualidade, em detrimento ao tempo.
Pois bem, dito isso, é impossível não relacionar o serviço jornalístico ao viés e às experiências do jornalista. Além de, é claro, referendar o estilo de empresa jornalística ao qual ele trabalha. Tudo isso é considerado no momento em que um jornalista escreve sua matéria. Algumas abordagens são, até mesmo inconscientemente, mais ou menos favoráveis aos personagens da história. Adjetivações de situações, como, por exemplo: “A manutenção do transporte público é vergonhosa para Sapiranga’, é diferente de “Transporte público sapiranguense sofre com falta de manutenção”. Embora digam coisas muito parecidas, mostram como uma mesma notícia pode ser colocada de forma que interfira na interpretação do leitor. Cito este exemplo pois já estive em situação de ter que “aliviar” os termos porque meu vínculo empregatício exigia um “abrandamento” de adjetivos.
É por conta destas formas tendenciosas de tensionar o assunto, que o jornalista precisa utilizar recursos e ferramentas argumentativas, audiovisuais, fotográficas, narrativas, do que tiver à mão, para confirmar aquilo que está dizendo, ou, passará a sofrer com o descontentamento do leitor, ou, pior ainda, com a falta de credibilidade do jornalista.
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