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Reduzir, reduziu, mas e na prática? (2018)

  • Foto do escritor: Leonardo Oberherr
    Leonardo Oberherr
  • 27 de jan. de 2021
  • 4 min de leitura

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A medida apresentada pelo Ministério da Saúde para a redução do consumo do tabaco no Brasil completou no último dia primeiro de fevereiro dezesseis anos. O segundo país no mundo – posterior apenas ao Canadá - a obrigar as empresas fabricantes de cigarro a estamparem imagens repulsivas nas embalagens de maços de cigarros mostrou resultados impactantes e positivos na tentativa de diminuição do consumo do produto.

A nova política de combate ao tabagismo foi implementada no final dos anos 90, quando o então Ministro José Serra ordenou o banimento de propagandas de cigarros em meios de comunicações, proibiu o uso do cigarro em ambientes públicos e que acabou culminando na implementação das fortes imagens nas embalagens de cigarro.

Os números apontam uma brusca queda no número de pessoas que fumam cigarro. Segundo estudo publicado pela revista científica The Lancet, o Brasil é o país com a maior redução do tabagismo no mundo, no período de 1990 até 2015. O consumo diário entre homens caiu de 29% para 12%, e entre mulheres, houve a redução de 19% para 8%.

O número da produção de tabaco atingiu números positivos para a saúde pública: a queda superior a 27% no número de famílias que realizam o plantio do tabaco. O país saiu de 198.040 famílias em 2005, para 144.320 produtores em 2015. Vale destacar que a queda no número de produtores também interveio no número de toneladas produzidas no período: de 842.990 toneladas em 2005, para 525.221 em 2015, segundo dados da AFUBRA.

Fato é que foi necessária extrema coragem do Governo para frear a segunda maior produção de tabaco do planeta, segundo estudo registrado e divulgado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAOSTAT). A produção de tabaco tupiniquim é a segunda em todo o mundo, atrás apenas da China, neste relatório de 2014.

O Brasil hoje é um modelo mundial a ser seguido, e para isso disponibiliza as imagens para os países que queiram gerar o mesmo impacto. Tailândia e Austrália pediram autorização ao Brasil para utilizar as mesmas imagens, e também registraram queda no número de fumantes. Segundo o último relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde), temos 19 países no mundo hoje que utilizam desta prática para diminuir o consumo e consequentemente o número de tabagistas em sua população. Ainda segundo a OMS, cerca de um bilhão de pessoas são atingidas por tal publicidade atualmente.

No papel tudo isso funciona. As provas, as estatísticas, tudo isso estão provando que as medidas funcionaram e funcionam. Mas até que ponto?

O número de fumantes no país ainda é grande, e nada impede que o número volte a crescer. Sabemos que a propaganda por mais impactante que seja, perde seu valor com o passar dos anos. Até por isso que a ANVISA divulgou em dezembro de 2017 as novas imagens que estampam as embalagens dos maços de cigarros. Mas será que a impactação e a exposição destas imagens perante toda a sociedade é a maneira mais correta?

Experiências pessoais demonstram que não. Citarei aqui dois exemplos que discordam da visão apontada pelos números. Carlos Menezes e Jackson Andrade. Ambos são de fato pessoas bem-sucedidas, esportistas e fumam.

Carlos é fumante há 21 anos, e desde os 18 possui essa prática. Hoje é um advogado de sucesso e reitera que quem fuma, pouco liga para essas imagens. Carlos comenta também que há uma grande diferença entre marcas e produtos, e com isso o cliente é fidelizado ao produto. Ele compara a diferença entre marcas de cigarro às bebidas alcoólicas e ao refrigerante. “Vídeo de pulmão estragado, imagens fortes nunca me impressionaram. Quem fuma periodicamente sabe dos riscos, mas usa mesmo assim. É semelhante ao uso do álcool, de analgésicos e tantas outras drogas que temos no mercado: Usamos porque gostamos”.

Jackson é outro caso de um fumante assíduo. Ele é programador em uma multinacional e fuma há 16 anos. Para ele, “as propagandas até te fazem pensar em parar, mas não é motivante o suficiente. Para quem é acostumado com o sabor, com o vício, as imagens não influenciam tanto”.

A notoriedade do assunto traz à tona um problema social em todos os aspectos: as medidas governamentais para a diminuição do consumo de qualquer substância, visa apenas o curto prazo. A impactação visual ou financeira. Casos como do cigarro e do álcool mostram isso.

As medidas contra o cigarro são campanhas entre adultos ou entre quem já é viciado no tabaco – caso de quem adquire o cigarro e observa as imagens na embalagem – e podemos ver, que a longo prazo, os resultados são pouco efetivos. No caso do álcool, é ainda pior. A comercialização e a publicização deste produto mostra ao consumidor que a bebida te deixa “mais bonito”, mais “atraente” e ao redor das “melhores pessoas” sendo que na verdade o abuso te leva exatamente ao contrário, ou, quando na melhor das hipóteses, te leva ao centro de uma blitz de Lei Seca. Blitzes essas que pouco são eficazes diretamente na redução do consumo do álcool entre a sociedade.

Os números estão aí e são retrato de que há sim um bom processo de conscientização em andamento, mas só isso não basta. A educação desde a infância, para todos os efeitos, sempre é a melhor resposta.

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Opinião:

Creio que a melhor maneira de incentivarmos o não - consumo de tabaco é por intermédio de ações sociais desde a escola. Programas como o PROERD – da Brigada Militar – e uma conscientização mais pertinente e eficaz desde os primeiros anos escolares é muito mais eficiente a longo prazo. Eu, por exemplo, nunca fumei e nem tenho este interesse. Fui aluno do PROERD e felizmente percebi os riscos que me trariam. Além disso, os preços poderiam obliterar com quaisquer saldos bancários pessoais.

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